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Brasileiros são os mais estressados do mundo nos ambientes de trabalho.
Até pouco tempo, os transtornos mentais que incluem doenças como depressão, ansiedade, estresse, alcoolismo, drogas e outros problemas eram desafios restritos ao setor de saúde. Mas após a pesquisa que aponta perdas de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial por ano em função desses males, as empresas começaram a buscar medidas preventivas e curativas. O tema foi destaque no início deste mês, no lançamento da Aliança Global por Ambientes de Trabalho Saudáveis, na sede do Banco Mundial (Bird), em Washington, nos Estados Unidos.
Segundo o superintendente do Sesi SC, Fabrízio Pereira, as doenças mentais são a terceira causa de afastamento do trabalho no Brasil e também em Santa Catarina, atrás apenas dos acidentes de trabalho e de lesões por esforço repetitivo. Nos países desenvolvidos, os transtornos mentais estão em segundo lugar no ranking de afastamentos, atrás das lesões de esforços repetitivos. O estudo do Banco Mundial que apurou as perdas econômicas prevê que, no futuro, esse mal será a principal causa de afastamento do trabalho.
Brasileiros são os mais estressados, diz médico
Um outro levantamento, da International Stress Management Association (Isma), mostra que os brasileiros são as pessoas mais estressadas do mundo nos ambientes de trabalho, conforme alerta o diretor do Instituto Sesi de Inovação em Tecnologias para a Saúde (ISI-SC), o médico fisiatra Marcelo Tournier.
– Isso é um indício de que deveríamos nos preocupar mais com a saúde mental. As pessoas menosprezam o problema, acham que os doentes estão fazendo corpo mole, que não querem trabalhar. Depressão é uma doença que precisa ser tratada – afirma.
Tournier alerta que as perdas econômicas apuradas são relevantes e o grande marco desse estudo do Bird é que ele incluiu os países mais pobres, porque antes só os mais ricos, que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), faziam a pesquisa.
Havia uma ideia de que depressão era um mal dos ricos, mas a pesquisa mostrou que pessoas de classes sociais mais simples têm o problema. Muitas são expostas à violência e risco social. Segundo ele, a crise econômica e o endividamento estão causando mais transtornos mentais no Brasil. O pior nos países em desenvolvimento é que as pessoas de baixa renda têm dificuldades de acesso a tratamentos psicológicos.
Diante desse cenário, entidades começam a desenvolver ações preventivas para essas doenças nas indústrias. Tanto o Serviço Social da Indústria (Sesi) de Santa Catarina, entidade da Fiesc que sedia o Instituto de Inovação em Tecnologias para Segurança e Saúde no Trabalho, quanto o Sesi RS, que abriga o Instituto de Inovação em Gestão de Fatores Psicossociais têm programas de prevenção na área e vão ampliar ações. Esse trabalho não ficará restrito aos dois Estados porque esses institutos integram um projeto nacional da CNI para difundir essas boas práticas.
O Sesi SC desenvolve desde o início de 2014 um programa de gerenciamento de estresse em indústrias que recebeu prêmios nacionais e o Sesi RS realiza um trabalho de prevenção às drogas há 20 anos que é uma referência para a Organização Mundial do Trabalho (OIT).
A jornalista viajou a Washington (EUA) a convite da Fiesc
Empresas de SC previnem o estresse
Com o objetivo de promover a saúde nos ambientes industriais, o Sesi SC iniciou em 2014 o Programa de Gerenciamento do Stress. O projeto piloto foi realizado de março a dezembro daquele ano na Sincol, de Caçador, indústria que atua há mais de 70 anos nos segmentos de portas e esquadrias. O case recebeu o Prêmio Daniel Lipp no 5o Congresso Internacional de Stress, em Campinas, São Paulo, e foi eleito o melhor case no XV Congresso Brasileiro de Qualidade de Vida de 2015 em SP.
Segundo a gerente de Qualidade de Vida do Sesi, Tatiana Greuel, um dos resultados positivos na Sincol foi o aumento considerável no número de pessoas que se declararam sem estresse. Subiu de 1,10% para 58,3%. Outro, foi que o total dos que estavam em fase de quase exaustão causada pelo estresse baixou de 17,6% para 3,3%.Diante desses avanços, o programa passou a ser implantado em várias empresas em SC, entre as quais o porto privado Portonave, em Navegantes, e a empresa têxtil Coteminas, em Blumenau.
A Portonave implantou o programa no começo deste ano, após análise do cenário e avaliação psicológica de gestores, quando foram identificados nove profissionais que já apresentavam algum nível de estresse. Desde então, eles participam de encontros coordenados por uma psicóloga do Sesi para saber como lidar com situações de estresse e formas de prevenção, que vão desde prática de atividade física até conceitos mais subjetivos, como focar no momento atual.
– Situações de estresse vão continuar existindo, mas cada um encara de uma forma. Algo importante que aprendemos é viver o momento. Quando estamos com a família, temos que viver aquilo plenamente e não ficar pensando em outras coisas, como trabalho – diz o supervisor de logística da Portonave André Koch.
Para o supervisor de operações Sandro Cordeiro, que também faz parte do grupo, uma das grandes lições é buscar o autoconhecimento e, a partir disso, ir atrás de alternativas para amenizar os impactos do acúmulo de estresse. Cordeiro já enxerga os próprios avanços, inclusive se animou a retomar as atividades físicas. Além disso, prioriza as resoluções de problemas no momento em que acontecem.
– Os gestores são os que hoje recebem a maior pressão do dia a dia. E eles sabendo gerenciar melhor as suas emoções, também trarão um ambiente de trabalho mais favorável, mais saudável para a sua equipe. Mas a maior importância é para o próprio profissional, a valorização do ser humano – pondera a analista de RH da companhia, Candice do Nascimento.
A expectativa da empresa é, após encerramento desse grupo, abrir o programa para todos os colaboradores, que hoje somam 1,1 mil funcionários.
Programa do Sesi RS reduz uso de álcool e drogas
Quando a Confederação Nacional da Indústria escolheu o Sesi RS para sediar o Instituto de Inovação em Gestão de Fatores Psicossociais considerou a experiência de 20 anos da entidade na prevenção do uso de álcool e drogas. Segundo a gerente da área técnica do Sesi RS, Lúcia Fabrício, devido aos resultados positivos alcançados com essa prevenção, são frequentes os convites para apresentar os dados no Brasil e no exterior.
Nas empresas do RS que adotam o programa há uma redução média de 16% no número de fumantes, de 10,4% no total de consumidores de álcool e 18,6% das pessoas que estariam no grupo de risco evitam se tornar dependentes. O instituto está em fase de implantação desde o ano passado. O projeto-piloto será entregue ainda este ano, explica Lúcia:
– Nós vamos desenvolver ferramentas para apoiar as empresas na gestão de fatores psicossociais. O principal foco será nas causas de afastamento do trabalho. No Brasil, estamos atrasados. Tratamos depressão, estresse e ansiedade como falha individual, mas sobre isso incide o ambiente de trabalho.
O ambiente escolar também pode ser causador de doenças mentais como ansiedade, bullying e depressão. Escolas da Europa fazem esse tipo de prevenção, têm programas para desenvolver a resiliência para ajudar as pessoas a enfrentarem isso.
Fonte https://www.saudeocupacional.org/2016/11/brasileiros-sao-os-mais-estressados-do-mundo-nos-ambientes-de-trabalho.html