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Ergonomia do cérebro, e não apenas do mobiliário, é essencial no ambiente profissional.
A depressão já é a segunda maior causa de invalidez em todo o mundo, atrás apenas das dores nas costas. No Brasil, segundo dados da Previdência Social, depressão e ansiedade ocupam o terceiro posto e afastaram, em 2013, 105 mil pessoas dos postos produtivos. Essa realidade tem mudado o foco das medidas de prevenção e cuidados adotadas pelas empresas. Mais do que as condições das estações de trabalho, as atenções precisam se voltar para os aspectos mental e psicossocial que estão colaborando para o adoecimento profissional. A cabeça é a bola da vez.
Segundo o médico do trabalho Hudson de Araújo Couto, vice-presidente da Associação Mineira de Medicina do Trabalho (Amimt), mais de 80% das pessoas em sua na vida produtiva serão acometidas por dores fortes nas costas, em função das condições de trabalho inadequadas. Já os distúrbios osteomusculares, como artrites e artroses, relacionados com o trabalho correspondem a 65% das aposentadorias prematuras. Mas os afastamentos psicoemotivos, como a depressão oriunda das excessivas cargas de trabalhos, já somam 5% dos afastamentos previdenciários e estão crescendo.
Para o especialista, a ergonomia é a principal ferramenta de prevenção dos adoecimentos e acidentes de trabalho, mas é importante valorizar, além das questões físicas, a realidade de carga e saúde mental, como memória, foco, simultaneidade, vigília, fadiga e qualidade de vida no trabalho. O assunto é tema do livro Ergonomia do corpo e do cérebro no trabalho (Editora Ergo), que o professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais acaba de lançar em parceria com a Academia Mineira de Medicina (AMM) e a Associação Mineira de Medicina do Trabalho (Amimt).
Isso porque a ergonomia vai muito além da aquisição de cadeiras e móveis adequados. Trata-se de um conjunto de conceitos e tecnologias para o ajuste mútuo entre o ser humano e seu ambiente de trabalho de forma confortável, produtiva e segura; sempre procurando adaptar a atividade profissional às pessoas. Ela se volta, portanto, para o aspecto físico, mental e psicossocial, sendo esses dois últimos os que mais demandam atenção na atual realidade das organizações e relações de trabalho.
De acordo com Frederico Gasperin, médico do trabalho da Contrei – Gestão em Segurança e Saúde Ocupacional, a depressão é uma doença que requer tratamento, pois prejudica o cotidiano do paciente e interfere, ativamente, em sua vida social e profissional. “Uma pessoa depressiva tem a capacidade laboral prejudicada e a produtividade reduzida, sobrecarregando a equipe de trabalho. O trabalhador fica mais suscetível a sofrer e a causar acidentes, sendo que, em alguns casos, o problema pode ganhar dimensão de epidemia e a situação tende a piorar”, explica.
O bem-estar físico e mental tem ganhado importância nos últimos anos. Isso está intimamente relacionado à ampliação do antigo conceito de saúde: antes tratado como ausência de doença. Um novo olhar nasce exatamente no trabalho, quando o estado mental e psicológico dos profissionais passa a afetar a produtividade e a média de dias trabalhados. A depressão já é, também, a terceira maior causa de perda de dias de trabalho no Brasil. Só em 2013, os transtornos de humor afastaram 105 mil trabalhadores, 10 mil a mais que em 2012.
Um dos problemas é o preconceito. A depressão, a ansiedade e o estresse não têm uma lesão à vista, algo paupável, visível. Isso deixa não só o diagnóstico mais difícil, mas também a crença na existência do problema. “Muitas vezes, essas doenças são vistas como uma fraqueza de caráter, até uma frescura, e isso dificulta ainda mais o paciente procurar tratamento. Ele tem medo de ser rejeitado e das pessoas de seu convívio não saberem lidar com a situação”, acredita Gasperin.
Na saúde mental, até 2007 a depressão só era considerada doença ocupacional quando estava exposta a fatores químicos. Ou seja, a doença existia e estava relacionada a riscos no trabalho, mas para ser considerada uma doença ocupacional precisava estar atrelada a esses fatores. Só com a mudança dessa regra a depressão foi percebida como uma doença de alta prevalência em vários profissionais. “Hoje, a cada seis mil afastados por depressão, mais ou menos 400 têm depressão relacionada ao trabalho”, alerta.
O outro problema é a falta de investimento. Como a depressão é uma realidade mais recente nas organizações, se comparada a outras doenças do trabalho, só agora elas começam a se adaptar para diminuir sua incidência. Daí a importância da ergonomia, que prevê um ambiente saudável, com condições de higiene, controle de temperatura e ruído, além da flexibilização das relações de trabalho. O tipo de gestão e perfil da liderança têm forte relação com o problema.
Fonte: http://www.uai.com.br/app/noticia/saude/2014/04/23/noticias-saude,192550/ergonomia-do-cerebro-e-nao-apenas-do-mobiliario-e-essencial-no-ambie.shtml