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MITOS E VERDADES SOBRE LER / DORT
“Meu cunhado tem uma doença chamada LER.” >>> Mito!
Do ponto de vista técnico, o que as pessoas chamam de “LER”, (referindo-se também à “LER/DORT”) representa um imenso grupo de doenças (que acomete ossos, músculos, tendões, ligamentos, etc.) e que de alguma forma, comprovadamente, possuem alguma relação com o trabalho.
Por que a frase acima é um “mito” do ponto de vista médico? Pois ela é como se alguém dissesse “meu cunhado tem uma doença chamada inflamação”. Mas inflamação onde? Se fosse nas amígdalas, esse indivíduo teria uma amigdalite; se fosse no fígado, teria então uma hepatite; e assim sucessivamente. Amigdalite e hepatite terão diagnósticos, tratamentos e prognósticos completamente diferenciados, pois são doenças bem distintas.
Assim, amigdalite e hepatite são doenças do imenso grupo das doenças inflamatórias. Analogamente, a síndrome do túnel do carpo (STC), a epicondilite, a lesão de supra-espinhoso, a tendinite estenosante (Síndrome de DeQuervain), são alguns dos transtornos que podem elencar o grupo das LER/DORTs. Cada um desses transtornos tem abordagem individualizada: os diagnósticos, tratamentos e prognósticos se diferenciam significativamente entre eles. Por isso que na Austrália o governo sabiamente decretou que “não existe LER/DORT”. O que existe é um conjunto de doenças que devem ser avaliadas caso a caso, e não como “farinha de um mesmo saco”.
Outro detalhe fundamental é que para que haja comprovação de qualquer uma das doenças do grupo das “LER/DORTs”, é necessário também, além de um correto diagnóstico da doença específica, se avaliar o nexo de (con)causalidade com o trabalho. Por exemplo: não é porque alguém é bancário e tem síndrome do túnel do carpo (STC), que necessariamente esse transtorno tenha sido gerado/agravado no trabalho. Não! A STC possui diversas causas não relacionadas ao trabalho, tais como: gravidez, uso de anti-concepcionais, hipotireodismo, etc. Assim, a análise do nexo de (con)causalidade entre essa STC e o trabalho constitui uma avaliação pericial, e dependerá de todas as características relativas à execução do trabalho da pessoa acometida. Ou seja: uma STC pode muito bem não ser uma “LER/DORT”: vai depender da configuração (ou não) do nexo de (con)causalidade com o trabalho feita pelo perito.
“A LER é uma doença incurável.” >>> Mito!
A maioria dos casos é totalmente curável. Mais do que isso, a maioria dos casos também tende a melhorar com o afastamento do paciente de suas atividades habituais.
“Fiz um ultrassom que mostrou que eu tenho LER.” >>> Mito!
O diagnóstico das doenças do grupo das “LER/DORTs” é essencialmente clínico, ou seja, dependerá sobretudo da avaliação do examinador, e dos testes por ele realizados (e não dos exames complementares). Existem (muitos) casos onde a ultrassonografia (ou qualquer outro exame complementar) evidencia alguma alteração, mas clinicamente não são encontrados subsídios para se fazer o diagnóstico de uma determinada doença do grupo das “LER/DORTs”.
Além disso, ratificamos, mais uma vez, que para uma doença elencar o grupo das “LER/DORTs” é necessária também a configuração pericial do nexo de (con)causalidade com o trabalho.
“Não trabalho como movimento repetitivo e mesmo assim tenho LER.” >>> Verdade!
Durante muito tempo acreditou-se que era necessário apenas o movimento repetitivo de determinados grupos musculares para o desenvolvimento de uma doença do grupo das “LER/DORTs”. É bem verdade que os movimentos repetitivos, sem o devido tempo de repouso do respectivo grupo muscular, pode desencadear uma “LER/DORT”. No entanto, outros fatores também podem gerar os transtornos, por exemplo: a contração contínua de determinados músculos por tempos prolongados sem o devido repouso, o que chamamos de sobrecarga estática (ou tensão dirigida).
Aqui, destacamos a diferença entre os operadores de call-center e os digitadores. De uma forma geral, o nível de cobrança por resultados, o que chamamos de assédio moral organizacional ou por estratégia (fator reconhecidamente estressante) entre os operadores de call-center parece ser maior do que entre os que são puramente digitadores. Sendo assim, mesmo realizando menos movimentos repetitivos, pesquisas demonstram que os operadores de call-center adoecem mais do que os digitadores. Por que isso? Um dos fatores é a sobrecarga estática advinda do nível contínuo de tensão muscular, que por sua vez, pode estar relacionado ao ambiente estressante de trabalho.
Nessa análise, podemos concluir também que: as “LER/DORTs” dependem fundamentalmente de fatores individuais. Por exemplo: por que alguns digitadores de uma mesma empresa adoecem e outros não? Uma das explicações é que alguns possuem uma musculatura mais resistente à fadiga do que outros. Por que alguns operadores de call-center de uma mesma empresa adoecem e outros não? Um dos fatores é que cada um de nós responde de forma diferenciada aos estímulos externos que geram stress e tensão muscular contínua. O que é stress para uns, para outros é apenas uma circunstância corriqueira do trabalho.
“A LER pode estar relacionada com o stress no trabalho.” >>> Verdade!
Conforme já vimos, a contração estática, também originada pelo stress no trabalho em alguns indivíduos, pode favorecer o surgimento de alguma doença do grupo das “LER/DORTs”. Outro dado interessante: o índice de “LER/DORTs” em músicos, em geral, é menor do que em digitadores. Renomados autores defendem a tese de que quanto maior a satisfação com o trabalho, menor será o índice de surgimento de “LER/DORTs”, mesmo que naquele ambiente se exija os adoecedores movimentos repetitivos.
Fonte: https://www.saudeocupacional.org/2011/07/mitos-e-verdades-sobre-lerdort.html