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“Saúde universal: para todos, em todos os lugares” – O papel dos Médicos do Trabalho
Dia 7 de abril é dia de refletir sobre nosso papel como médicos e médicas, e também como cidadãos, na defesa da saúde para todos. Provavelmente, o primeiro e natural passo é reforçar nossa defesa pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que responde pela assistência de mais de 150 milhões de brasileiros, o triplo do número de pessoas atendidas pela saúde suplementar. Ou seja, três em cada quatro brasileiros dependem exclusivamente do SUS e, dentre eles, temos trabalhadores formais e informais que precisam de nossa atenção. Por isso, precisamos todos apoiar políticas que garantam o acesso à saúde universal.
Trazendo esta reflexão para mais próximo do exercício profissional da medicina do trabalho, penso que podemos agir em mais três frentes, além da defesa do acesso a um sistema de saúde de qualidade: a atenção integral a todos os trabalhadores, a prevenção dos agravos relacionados ao trabalho e a promoção da saúde.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) contínua, publicada no último trimestre de 2017, o Brasil tem cerca de 92 milhões de trabalhadores, sendo 33,2 milhões empregados com carteira de trabalho assinada, 11,2 milhões de empregados sem carteira de trabalho assinada e 23 milhões de trabalhadores por conta própria. Isso nos mostra o significativo contingente de trabalhadores que tem (ou deveriam ter) acesso ao atendimento de Médicos do Trabalho, com um imenso potencial de acesso à atenção integral à saúde. Cabe aos Médicos do Trabalho garantir que esta atenção seja de qualidade.
Nosso papel na prevenção de acidentes e doenças relacionados ao trabalho já é bem estabelecido, mas ainda precisamos aprimorar nossa atuação, lutando por mais autonomia para nossas ações, mais efetividade nas intervenções e, portanto, por melhores resultados. Além de estar no “DNA” de nossa especialidade, a prevenção dos agravos à saúde relacionados ao trabalho é uma forma de defender a saúde para todos, de não onerar os sistemas de saúde (público e privado) e de reduzir os custos sociais que, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) podem comprometer até 4% do Produto Interno Bruto (PIB) de um país.
Finalmente, Médicos do Trabalho têm um acesso privilegiado e facilitado aos trabalhadores, o que nos dá uma oportunidade única de promover a saúde, não apenas dos trabalhadores, mas também de suas famílias. Na prática, isso significa que temos o poder de alcançar metade da população brasileira, ou até mais. O que nós, Médicos e Médicas do Trabalho, faremos com esta oportunidade e este poder de transformação? Espero que muito e em pouco tempo, porque a promoção da saúde é uma prioridade para quem trabalha e uma oportunidade que nos diferencia frente a outras especialidades médicas.
Os mais céticos podem dizer que nosso sistema público de saúde é frágil, imperfeito, incompleto e mal financiado. Que o sistema de saúde suplementar é mal regulado, caro, não acessível e de qualidade questionável. É verdade. Concordo com os céticos, mas penso que é exatamente nas críticas que encontramos terrenos férteis para cultivar a esperança e as oportunidades. Então, desejo que o dia 7 de abril seja um dia de reflexões. Que todos nós, médicos e outros profissionais da saúde, possamos defender a saúde para todos, com mais ciência, trabalho interdisciplinar, com coragem, com políticas mais justas e, por que não dizer, com amor por nossa profissão e nossos pacientes/trabalhadores.